segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Escrever

Sabem aquelas pessoas que vemos uma vez nos transportes públicos e causam impressão? Imaginem um rapaz franzino, alto, cabelo grande encaracolado, puxado para trás com gel ou brilhantina - sei lá eu -, fatinho preto, crachá na lapela do casaco, sapatos que fazem barulho a mais para serem de homem, mas que o fazem de qualquer maneira. O rapaz avança no corredor do autocarro, direitinho, queixo lá bem no alto, olhos a olharem por cima dos óculos. Trás uma caneta e uma enorme agenda já bastante gasta debaixo do braço. O rapaz senta-se, olha para a rapariga sentada à sua frente e desata a tirar notas. Olha outra vez e escrevinha mais um bocado. E eu olho e imagino, e noto que quando acabado de escrever, o rapaz pousa a agenda no colo e une as pontas dos dedos como aquele tipo dos desenhos animados do Inspector Gadget que tem um gato, calça luvas, mas que nunca nos mostra a cara. Eu olho, e penso, e tiro apontamentos mentais sobre este rapaz, imaginando que tenho que usar a sua imagem em qualquer lugar, em alguma página, em alguma história que decida escrever. Porque escrever define-me, e é normalmente quando encontro pessoas bizarras pelo caminho, que me lembro que isso não é só fruto da minha imaginação ou um hobbie que de tão bom quase se torna obsceno. Escrever é, para mim, um facto.

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