quinta-feira, 2 de abril de 2015

Raio do Gafanhoto

Estive de propósito à espera que passasse o Dia das Mentiras para contar esta. Não, é mentira: só me lembrei agora antes de deitar... Eis o que me aconteceu há um tempo atrás: uma besta qualquer arrancou-me o espelho do carro - um daqueles laterais, mesmo do lado do condutor; na realidade foram bestas - sim, no plural - porque aconteceu mais que uma vez. Encaixei o dito cujo, claro está, e ele lá se aguentou. Isto é, até uma fatídica noite em que vinha a conduzir numa estrada sem grande iluminação e pumba! Lá se vai a capa do espelho. Tudo bem... O carro já andava assim há alguns meses: até foi à inspecção sem ela, e disseram-me: "Hmm... Tem que arranjar isto." E sim, há umas semanas atrás, movida por um sentido de orgulho por um carro que está podre de velho (Opel Corsa, horrível por fora, grande motor), lá comprei um espelho novo num site de venda de peças para carros. Tudo bem, até aqui. Hoje tenho algum tempinho nas mãos, chego a casa e penso, "É hoje que vou mudar a porra do espelho." E lá mudo a porra do espelho. Maravilha, novo, perfeitamente funcional, fazer este tipo de coisa faz-me sentir poderosa. Tão poderosa que, quando acabo de fechar o carro, vejo um gafanhoto a cair de costas no passeio e digo para mim, "Ei... Vou ajudar o pequenito".Esta é obviamente a parte em que menciono que tenho um medo desgraçado de gafanhotos porque um me pousou em cima uma vez e nunca mais me esqueci. E que eles nunca são tão pequenos quanto parecem. Dou então um toque ao de leve com o pé no gafanhoto para o virar ao contrário. O vilão cola-se ao meu sapato. Começa a bater as asas. O horror daquele barulho, Deus do Céu. E eu desato a dar pontapés no ar, qual Bruce Lee, mas um bocadinho mais abaixo, assim ao nível das canelas. Lá o filho da mãe se despega e olho em volta para confirmar que ninguém me viu. Foram só as senhoras do lixo. Nada que não possa aguentar.

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